quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Nocturno

 Sumido nas profundezas do pensamento, vejo no fundo do poço, e com uma pouca força que aparece levanto o rosto. Ao redor tudo é escuro. E no alto, muito acima de mim tem um ponto de luz, como a luz de uma estrela ou como a luz da vela que a avó acende ao santo para fazer uma oração por cada filho, para que ele os proteja, mesmo que a tarefa seja feita por ela. O santo respeita a devoção e mesmo que os filhos sejam o que for, cuida deles. Pensando aqui, eu não sei se consiga erguer-me e chegar até aí. Sem propósito e sem esperança fica bem difícil quase que impossível atingir esse objetivo. Ainda respiro, porem a sensação que tenho é de muito tempo se passou. O sentimento de fóssil inerte é grande. Os escritos são pessoais. Uma fuga da dor cotidiana, uma fuga do amor e dos versos que não consigo escrever. Os versos que acompanharam um funeral vikingo. O fogo estará presente. Apertando os labios continuo de olho na luz e espero, espero, espero. O tempo deve me ajudar de algum jeito ou pelo menos tem de mostrar-se misericordioso. Para que seguir adiante? Tenho duas teorias, o respeito á luz que me foi entregue no inicio dessa empreitada que chamamos de vida ou o orgulho de cair em pé de luta que tive de aprender e interiorizar para manter a cordura e elegancia em esses anos que se passaram. Pode ser um misto das duas coisas. Irrelevante, hoje eu sou irrelevante, mas irrelevante que nunca. Até agora são más de vinte mil corpos inertes devido a um movimento terrestre. Eu seria e serei um corpo inerte más. Somos um digito desprezível quando somado ao conjunto. Aqui de joelhos analisando as possibilidades e pensando a vida. Aqui de joelhos faço minha oração, peço por você e por mim, peço por todos nós. O milagre segue acontecendo e acordo todo dia, mesmo neste buraco, aguento firme e espero a dor passar. Aprender a sofrer não é tarefa fácil, A paciencia funciona para mim, um pouco. Manter a cordura é um exercício diario. Aguardarei o momento preciso, o piscar da estrela, o beijo dela e tentarei erguer-me de uma vez só, mesmo que seja o último suspiro. O ser sem rosto que fica olhando para mim como aguardando um sino tocar, calafrio percorre esse corpo que não sente mas o calor do abraço inocente. Quanto custa o amor? Amantes até o fim. A morte e eu, andamos juntos desde que nascemos, cada pessoa tem sua morte do lado, nunca estamos sozinhos. Aquela antimateria acompanha sempre a materia que somos nós mesmos. A musica vem e a visão fica distorcida. O texto fica grande, o sistema nervoso destruido e as incertezas florescem. Respeito máximo para todas as pessoas que passam e passaram por aqui, respeito para quem não aguentou, respeito para quem resistiu. Queria estar no futuro, porem o futuro não existe.  

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