sábado, 7 de outubro de 2017

Lembrete

A chuva chega com o cheiro de molhado. Antes da primeira gota de água cair na minha testa, sinto o cheiro da chuva. Cheiro de misturas, cheiro indecifrável. Mas, característico e inconfundível. Sempre aparece um segundo antes da primeira gota de água cair na minha testa.

Respiro profundamente e não abro o guarda chuva. Na minha cabeça tem uma emaranha de pensamentos e ideias, mas sempre tudo isso para um segundo antes da primeira gota de água cair na minha testa.

Vejo as pessoas correrem procurando um lugar onde a água não caia nelas. Eu fico parado e fecho os olhos para sentir cada gota caindo no chão e no meu corpo. Um momento de sensibilidade máxima. Um desses momentos de paz e de consciência que responde localmente o porque estou vivo.

É, existem milhares de momentos onde acontecem coisas maravilhosas e não presto a atenção necessária. Sim, correto. Eu não sei nada de nada. Só tenho esses sentidos e essa vida queimando o meu corpo todo. A vida quer sair e me mostrar todo. Eu só deixo ela sair antes da primeira gota de água cair na minha testa.

Um momento só. Um intervalo de tempo andando a vida toda para a frente. Uma mulher observando a chuva alguns  passos na frente de mim, na outra rua. Aquela brisa toda traz o seu perfume, suave, ligeiro. Meus olhos fechados deixam todos meus sentidos acessos e por ai sai minha vida toda. Ela foge de mim e de meus problemas banais. Deixa toda esta massa miserável para atrás. Só um segundo, um minuto, uma hora...

Respiro profundamente e abro meus olhos. Lembro que tenho coisas para fazer  e meus pés andam de novo. Assim a chuva vai embora com seu cheiro de molhado.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Desigualdades de Bell

Enquanto a luz apaga-se, vejo que seu rostro continua aqui. Aqui no mais superficial da minha mente. Esta mente cativa e escondida da realidade. Foi no começo da primavera que vi aquele rostro que jamais esqueci. Porem, muitas coisas aconteceram desde aquele dia até hoje. Um invento da minha criatividade, uma vez mais eu estou imerso em pensamentos metafísicos que não me levam para lugar nenhum.

Depois de uma pausa e um gole de café. Chego na conclusão que pensar na realidade me leva no mesmo lugar dos pensamentos metafísicos. Quero expressar muito, expressar todo e entender todas as coisas. Saber que posso me sentar nesta cadeira velha e tomar meu café conhecendo o resultado final do meu experimento mental, e ver as leis da natureza mostrarem essa concordância divina. Ela sempre mostra aos poucos, mas não de vez.

Não de vez meu bem, não de vez. Penso que ela age assim. Como o pai educa seus filhos mostrando algumas peças do quebra cabeça, mas não resolvendo todo. Amei e amo essa pessoa que está aqui hoje. Aquelas que partiram também amei, independentemente dos conflitos, sempre dei amor.

O arrependimento chega como a dor ou como o último gole de café, mais amargo, mais frio. Assim, a vida vai e deixa-nos lembranças e metafísica.

Contemplando desde a janela, vejo meus neurônios que não voltam no texto para ler o que escrevi. Eu já não quero avaliar se o que escrevo esta bem. Bem em que sentido? Devo agradar alguém com meus escritos?. São meus. E, no meu egoísmo os compartilho com alguém. Alguém como você que pode ficar afim ou não, desta tinta espalhada em forma de símbolos. Símbolos que nem todos entendemos e nem todos sabemos arrumar. Esta certo somos a criança com algumas peças do quebra cabeça montadas, somos crianças e órfãos.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Ressaca

Hoje eu morro, mas amor eu te amei de verdade. Desculpa não ter ido comprar a coca.

Ps: Eu fui comprar a coca.

Costumes

Esquecido e mergulhado em ideias sem futura aplicação. Ideias barradas antes de nascerem, antes de serem paridas. Hoje de novo, hoje de velho, estou sentado nesta sala vazia de vida. Uma sala inerte onde as coisas acontecem mecanicamente.

Chego as nove e pouco da manhã, as vezes sem tomar café, as vezes com a barriga cheia. Passo o cartão e a porta se abre, depois viro o labirinto do laboratório e chego na última sala, seu número é 50,1. A sua historia é engraçada por que ela não era sala, não foi planejada para ser sala. E sim, agora é uma sala improvisada feita de painel gesso e uma porta de madeira que no inverno trava e tenho que dar um jeitinho para abrir. 

Toda manhã procuro a pequena chave que abre aquela porta dentre um chaveiro com muitas chaves. A maioria de chaves não uso, porem carrego todas elas. Ligo o computador e abro o navegador, enquanto isso ligo o telefone na tomada. Olho as mensagens no e-mail. Depois de restaurar as paginas de ontem no computador, abro a rede social e vejo se tenho mensagens.

A maioria das vezes não tenho mensagens e quando aparece alguma, não é a que esperava. Não sei qual mensagem espero por que nunca chegou ou talvez chegou e eu nunca dei resposta. Desço na tela e vou passando os posts das pessoas e algumas propagandas da rede social. Aparecem muitas piadas em forma de memes. As piadas de hoje não deixam nada para imaginação. Elas vem prontas e são feitas por alguém querendo ganhar likes e sorrisos. No final tudo é dinheiro.

Trabalho o dia todo até tarde a noite, tipo umas nove ou dez horas. De quando em quando, vejo a rede social que é a única coisa que me conecta com as pessoas. Mais que miserável, eu sou um infeliz miserável.

Hoje fiz muita coisa e estude para caramba. Porem, no papel parece que não fiz nada. Hoje a semana passada, o mês passado. Trabalhei fortemente, porem parece que não fiz nada. Como se eu tivesse tirado ferias de três meses. A exigência de resultados é constrangedora e hoje não me sinto humano. Um humano caminhando no seu tempo e com seu tempo. Eu sou uma massa cheia de estresse e cobrança. Eu cobro por não ter feito o relatório no tempo, o EQD no tempo, o amor no tempo, o café, as amizades...

Para onde foi minha vida, para onde vai meu ser com noção das coisas, mas ainda escravo. Não devo deixar passar os momentos por estar enfiado na cadeira tentando agradar pessoas que não valorizam meu esforço. Agora entendo tudo e de vez não entendo nada. Uma vida levada sem coerência, com a aparência da perfeição. Isso aqui não é vida, mas faz parte da incompreensão e do absurdo que é viver e morrer em um mundo sem dor e sem empatia entre as pessoas.

Eu afastei do tema que queria falar em estas letras. Me afasto de você por um tempo e perco seu interesse em mim. Eu me afasto das pessoas e elas terminam se acostumando com minha ausência. O valioso então é a interação, mesmo que seja em uma rede social virtual, mesmo que seja uma interação maquina-pessoa.

Estas afirmações causam uma angustia que não posso deixar para atrás. Sinto dor de estar sozinho, mas também sinto paz. Eu não sei de onde vem toda essa ambiguidade. Deve ser a natureza humana ou a mão poderosa de outros humanos agindo para controlar-nos. Já são oito horas devo ir em casa, tomar um banho e descansar. Ver as pessoas da república, falar um oi sem profundar em nenhum tema. Tchau até amanhã.