A chuva chega com o cheiro de molhado. Antes da primeira gota de água cair na minha testa, sinto o cheiro da chuva. Cheiro de misturas, cheiro indecifrável. Mas, característico e inconfundível. Sempre aparece um segundo antes da primeira gota de água cair na minha testa.
Respiro profundamente e não abro o guarda chuva. Na minha cabeça tem uma emaranha de pensamentos e ideias, mas sempre tudo isso para um segundo antes da primeira gota de água cair na minha testa.
Vejo as pessoas correrem procurando um lugar onde a água não caia nelas. Eu fico parado e fecho os olhos para sentir cada gota caindo no chão e no meu corpo. Um momento de sensibilidade máxima. Um desses momentos de paz e de consciência que responde localmente o porque estou vivo.
É, existem milhares de momentos onde acontecem coisas maravilhosas e não presto a atenção necessária. Sim, correto. Eu não sei nada de nada. Só tenho esses sentidos e essa vida queimando o meu corpo todo. A vida quer sair e me mostrar todo. Eu só deixo ela sair antes da primeira gota de água cair na minha testa.
Um momento só. Um intervalo de tempo andando a vida toda para a frente. Uma mulher observando a chuva alguns passos na frente de mim, na outra rua. Aquela brisa toda traz o seu perfume, suave, ligeiro. Meus olhos fechados deixam todos meus sentidos acessos e por ai sai minha vida toda. Ela foge de mim e de meus problemas banais. Deixa toda esta massa miserável para atrás. Só um segundo, um minuto, uma hora...
Respiro profundamente e abro meus olhos. Lembro que tenho coisas para fazer e meus pés andam de novo. Assim a chuva vai embora com seu cheiro de molhado.
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