quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Costumes

Esquecido e mergulhado em ideias sem futura aplicação. Ideias barradas antes de nascerem, antes de serem paridas. Hoje de novo, hoje de velho, estou sentado nesta sala vazia de vida. Uma sala inerte onde as coisas acontecem mecanicamente.

Chego as nove e pouco da manhã, as vezes sem tomar café, as vezes com a barriga cheia. Passo o cartão e a porta se abre, depois viro o labirinto do laboratório e chego na última sala, seu número é 50,1. A sua historia é engraçada por que ela não era sala, não foi planejada para ser sala. E sim, agora é uma sala improvisada feita de painel gesso e uma porta de madeira que no inverno trava e tenho que dar um jeitinho para abrir. 

Toda manhã procuro a pequena chave que abre aquela porta dentre um chaveiro com muitas chaves. A maioria de chaves não uso, porem carrego todas elas. Ligo o computador e abro o navegador, enquanto isso ligo o telefone na tomada. Olho as mensagens no e-mail. Depois de restaurar as paginas de ontem no computador, abro a rede social e vejo se tenho mensagens.

A maioria das vezes não tenho mensagens e quando aparece alguma, não é a que esperava. Não sei qual mensagem espero por que nunca chegou ou talvez chegou e eu nunca dei resposta. Desço na tela e vou passando os posts das pessoas e algumas propagandas da rede social. Aparecem muitas piadas em forma de memes. As piadas de hoje não deixam nada para imaginação. Elas vem prontas e são feitas por alguém querendo ganhar likes e sorrisos. No final tudo é dinheiro.

Trabalho o dia todo até tarde a noite, tipo umas nove ou dez horas. De quando em quando, vejo a rede social que é a única coisa que me conecta com as pessoas. Mais que miserável, eu sou um infeliz miserável.

Hoje fiz muita coisa e estude para caramba. Porem, no papel parece que não fiz nada. Hoje a semana passada, o mês passado. Trabalhei fortemente, porem parece que não fiz nada. Como se eu tivesse tirado ferias de três meses. A exigência de resultados é constrangedora e hoje não me sinto humano. Um humano caminhando no seu tempo e com seu tempo. Eu sou uma massa cheia de estresse e cobrança. Eu cobro por não ter feito o relatório no tempo, o EQD no tempo, o amor no tempo, o café, as amizades...

Para onde foi minha vida, para onde vai meu ser com noção das coisas, mas ainda escravo. Não devo deixar passar os momentos por estar enfiado na cadeira tentando agradar pessoas que não valorizam meu esforço. Agora entendo tudo e de vez não entendo nada. Uma vida levada sem coerência, com a aparência da perfeição. Isso aqui não é vida, mas faz parte da incompreensão e do absurdo que é viver e morrer em um mundo sem dor e sem empatia entre as pessoas.

Eu afastei do tema que queria falar em estas letras. Me afasto de você por um tempo e perco seu interesse em mim. Eu me afasto das pessoas e elas terminam se acostumando com minha ausência. O valioso então é a interação, mesmo que seja em uma rede social virtual, mesmo que seja uma interação maquina-pessoa.

Estas afirmações causam uma angustia que não posso deixar para atrás. Sinto dor de estar sozinho, mas também sinto paz. Eu não sei de onde vem toda essa ambiguidade. Deve ser a natureza humana ou a mão poderosa de outros humanos agindo para controlar-nos. Já são oito horas devo ir em casa, tomar um banho e descansar. Ver as pessoas da república, falar um oi sem profundar em nenhum tema. Tchau até amanhã.

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