terça-feira, 16 de junho de 2020

Verdes

É normal ter medo em dias cinzas e é normal ter medo em dias abertos a luz do sol. É normal ter medo em qualquer instante de tempo. Fomos feitos de medo.

O parque da esquina da casa, onde tantas pessoas vão dar uma voltinha para espairecer e alguns para cuidar da saúde física e mental. Tem pessoas como eu que usam o espaço para conversar enquanto damos uma caminhada. Duas pessoas juntas já é boa companhia, já é bom demais. 

Naquela praça levam os cachorros para exercitar-se, correr um pouco trás os discos voadores, também nessa praça tem amantes que se beijam nas sombras das folhas das árvores, alguns encostados no tronco. Alguns casais sentados na grama se dizem silêncios, palavras que ninguém consegue ouvir. Só as almas conetadas nesse dialogo.

Sempre acontece alguma situação especial naquela praça, mesmo eu não estando aí, sempre vejo a vida passar pelos meus olhos, mesmo eu não estando aqui. Entender as dúvidas e acalmar as dores precisa de uma arte, que ganhe em imaginação e veja o tom verde dos fatos.

Quero me aproximar do amor, da natureza, da humanidade; Como nunca antes me aproximei, com o olhar distinto e o peito aberto, com medo, porem com segurança e valentia. Usando todas as qualidades necessárias para conseguir esse objetivo de amar e ser amado.

Naquela praça tudo o que acontece é sobre amor, nestes espaços nestes sentidos todo o que percebemos se liga a uma forma de amor, aquela coisa que une as pessoas, os objetos, os bichos. Laços invisíveis que crescem como galhos de árvores, que vão ramificando até formar aquela sombra acolhedora que brinda sossego e bem estar para quem ocupa esse espaço nesse instante de tempo.

Tem árvores que precisam de cuidado para crescer, porem depois de um determinado tempo viram uma imensidão, como o céu azul da cor do mar. Sair daquele conforto sempre nos confronta com o medo, com nós mesmos. O espelho mostra o que somos. Uma mistura de elementos químicos que tem como principio fundamental arder, queimar oxigênio.

Essa praça, é a nossa casa, nosso quintal. É o cantinho onde pesquisamos dentro de nós, onde a gente se reconhece como pessoas, seres humanos bem inferiores à grandeza que envolve-nos.





quinta-feira, 4 de junho de 2020

As três Marias e os dois ancianos.

Cheiro de flores noturnas, ela veste seu casaco vermelho. Cor linda de vestir. Entre agulha é fios costura seu coração. Com um sutil e simples nó que repete-se milhares de vezes. Mostrando para mim que a continuidade são pequenos passos.

Noites de pensamentos e lembranças de amores, ela olha para mim e pergunta se esta todo bem. É o jeito de ser magnânima. Sempre quero voltar naquele parquinho, fazia-me bem. A casa do velho é um achado, um castelo no meio de um oásis de pessoas queridas. Sempre estávamos ai. A rua e a casa contam historias no dia e na noite, sempre ouve-se o vento levando palavras de lugar em lugar, de pessoa à pessoa.

Achada e perdida, retoma a linha de novo com a precisão que a abelha possa na flor para extrair o néctar que da vida ao ninho, Assim ela da vida a diversas criações que são fruto das suas lutas internas. Um universo mora ali dentro, onde não consigo enxergar.

Sentada na cadeira, do lado de fora esta a outra ela, que fica assutada quando me vê, porque não entende esse meu jeito de brincar. Preta, quanto dera por um último passeio.

Sinto para fumar um cigarro, naquele cantinho que não deixa bater a luz do sol, porem não é escuro. Degraus que guardam historias também, e ainda hoje devem estar escrevendo muitas outras. Eles são dois irmãos um já tem o cabelo cinza, é o mais velho. O outro gosta de se vestir bem e anda tudo tudo.

Eu conversando com eles e aparece a outra personagem de este verso. A maravilhosa, a charmosa, a incontrolável, a indomável. A geniosa mais companheira que já conheci e para qual nunca o amor é suficiente. Ela suga de um jeito que tenho de ficar esperto para não morrer afogado pela sua intensa presença.

O que esta fazendo?, pergunta de longe para mim a costureira de sonhos.
Nada, pensando. Respondo.

terça-feira, 2 de junho de 2020

Vísceras IV

O que fica? O que salva nossa alma? O que envelhece assim que chega a causar aquela osmose de corpo e alma. A sinceridade contigo, comigo. As tardes de caminhada, as conversas. Noites frias de inverno batem na porta e anjos sem assas andam pela rua. Tentando entender, tentando viver um dia de vez. O bar está com cervejas frias, tem cigarros na vitrine e ainda lotado de objetos, esta vazio.

Introspetivamente uma gota de chuva cai, apos esse sublime sacrifício vem uma reação em cadeia e trilhões de gotas imolam-se contra o chão, explodem. Os sentimentos são exumados, o telão desse e a peça acaba. A morte sempre do lado. A beleza também  gasta-se e chegará o dia que não entendamos como passo tudo, por que nem lembrarei, nem lembraras, nem lembraremos. A unica coisa que ficará sera o que pode ter sido.

Desgasto células nestas linhas e os dedos tremem em uma mistura, osso e carne, ódio, ressentimento, amor, esperança. tudo junta-se por alguma força elemental. Impossível de perceber, sem ordem, sem compaixão, sem misericórdia. Estacas no peito são pregadas, morrem os vampiros com a luz do sol, morrem as galaxias que não conseguem deter a sua aceleração e se destroçam aos pedaços em milhares de elementos desconhecidos, neste mesmo instante diminuto de tempo.

Costurar as feridas, emendar-se, levantar-se e ver para o horizonte. Destino tem muito ainda, nesta vida ou na outra. impensáveis são as coisas que deveriam ter acontecido. As reflexões estão demais. Sonhos foram excluídos, deletados. vísceras espalhadas dentro do nosso ser aumentam o desespero de viver, dores aparecem, veias que explodem pelo pulso insanável do coração.

Animais cósmicos vem a mente e navegam entre mares negros, por que o vazio não tem cor, não tem nada e nada é uma coisa, uma palavra esquecida pelos profetas ciganos que tem sua historia falada. Eu não sou o mesmo, você não é a mesma, eles não são iguais a nós. Somos mutações de inconsciência embebida no mais longe poço do cérebro, um buraco preto dentro de nós consome nosso ser, arde como a Roma.

Raiva nas palavras, desejo de morte, nada faz sentido, O vazio absoluto cresce com os anos, ficamos mais longe os uns dos outros,  aquela força repulsiva nos afasta, desgasta-nos, apodrece o melhor de nós.

Assassina-me!, atira bem no meio do meu peito, não me deixe moribundo,  desvalido. Me da uma morte digna, eu mereço isso.
zumbidos de musicas estremecem as fibras e os tecidos, as agulhas já não doem, o impacto é iminente, bato de novo no pé. Os corvos estão maiores, cresceram dentro de mim. A guerra acabou, os soldados voltam mutilados, assim vai ser até o fim dos nossos dias. A carne vai ser consumida, engolida por seres microscópicos, interestelares. Alimentados com nossas dores, com todo o sofrimento deste mundo insano.

Ainda chove aqui fora, e não termino de escrever. Tenho muito a dizer e não vou conseguir neste poema sem sentido próprio, iluminado só pelas minhas vivencias de ontem, do mês passado, de um ano atras, dez anos no tempo. Para o universo nada, para mim o absurdo toma conta desde que nascemos, desde que aquele espermatozoide encontra o ovulo começa o carma. Qual é essa divida que tenho?, que temos? por que não consigo pagar, querem meu sangue? que posso te oferecer neste inferno, como posso te pagar pela injustiça, pelo que tenho culpa, pelo que eu sou, pelo que eu serei.

Estamos lidando, porem alguns de nós vão parar. e dessa vez será para sempre. Asilados, aislados, marcados, abusados, perdidos, sufocados. A maquina não vai parar. As engrenagens estão lubrificadas até o infinito, estou de passo, estamos de passo e pronto veremos a posição das coisas, das palavras que não serão ditas, do nome que não dei. Do que saiu e do que entro pela porta e ficou tatuado na pele e escurecido com os anos.

Ontem morri, hoje morri de novo, amanha também e assim até que o hotel de Gilbert seja totalmente preenchido.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Causalidade

No aguardo do dia seguinte o dia anterior passa lento e o atual despercebido. Noites de solidão e frio do inverno batem na janela. Janela que se mexe como querendo me dizer uma palavra, tal vez um grito. Soprando, o vento entra no meu cobertor e me faz companhia, gelada companhia. Melhor que nada né, não posso reclamar. Assim me ensinaram, tem coisas piores e pelo menos estamos vivos e com saúde.

Agora faz sentido ou não aquela frase do verso anterior, fomos criados com a resignação de nosso nível social, com uma ideia de falsa liberdade que nunca esteve, que nunca está. Foi embora no momento que fomos jogados da matriz materna, aquele lugar quente e coberto, onde éramos os donos absolutos do meio do nada, sempre isolados desde que fomos criados.

Aquele velhinho que morava do lado do me quarto, o conheci hoje. Veio com sua companheira para pegar umas plantas e uma terra que tinha deixado no jardim. Obviamente eu nem tinha percebido, eu já nem olho detalhadamente nas coisas, estou perdendo meu toque. O casal de velhinhos fofos gritaram na porta o nome de A. meu outro vizinho que dividiu áreas comuns com eles. Sem resposta eu assomei meu nariz, como sempre onde não fui chamado. Más foi legal, o velhinho pediu para mim que pega-se um maracujá do chão. No outro dia eu tinha visto um outro maracujá no chão, porém foi quando o velhinho pediu para mim que descobri que tem um pé de maracujá no meu quintal.

Diz pra eles que o A. tinha ido caminhar, nesse horário do por do sol ele faz isso, é a sua rotina que segue fielmente para não sentir o tédio do vazio. Logo depois pediram para eu abrir a porta pra eles pegar as plantinhas. Na verdade as plantinhas estavam secas nem o A. nem eu temos essa costume linda de cuidar das plantas. Eu fiz um gesto e eles continuaram seu pedido me contando que já tinham morado aqui, eu abri e ajudei a senhora pegando um saco de terra e colocando dentro do carro (sim a gente envelhece e começa gostar de terra). Foi um momento especial onde teve a oportunidade de mostrar quanto eu sou gentil.

A mulher C. inquieta quis dar uma olhada no outro lado do quintal e foi, eu nem diz nada. Foi a casa dela, o seu N ficava olhando o pé de maracujá, despindo a arvore de suas folhas com seu olhar, procurando só a figura de esfera da fruta aceda. Parafraseou entre dentes que não tinha como sem sua barra de abaixar maracujás, especialmente desenhada por ele para esse propósito. 

ajudei a dona C. levar os vasos ao carro e me contaram que moravam perto dai, que eles eram do sul, a dona C pergunto de donde eu era e respondi do norte. Ela agradeceu a ajuda e me deu um presente que agora não sei como cuidar, ela diz: tem uns pé de batata doce que eu cultivei naquele outro quintal pegue elas quando crescer.

Antes de entrar em casa olhei para meus pés de batata doce e pensei e agora como cuido de vocês?. Depois pensei de novo: eles já estavam ai quando eu cheguei e nunca precisaram de mim, por que irão precisar agora?. Esse pensamento não tirou a necessidade de toda vez que vou sair de casa olhe pra os pés de batata doce e verifique se estão bem.