terça-feira, 2 de junho de 2020

Vísceras IV

O que fica? O que salva nossa alma? O que envelhece assim que chega a causar aquela osmose de corpo e alma. A sinceridade contigo, comigo. As tardes de caminhada, as conversas. Noites frias de inverno batem na porta e anjos sem assas andam pela rua. Tentando entender, tentando viver um dia de vez. O bar está com cervejas frias, tem cigarros na vitrine e ainda lotado de objetos, esta vazio.

Introspetivamente uma gota de chuva cai, apos esse sublime sacrifício vem uma reação em cadeia e trilhões de gotas imolam-se contra o chão, explodem. Os sentimentos são exumados, o telão desse e a peça acaba. A morte sempre do lado. A beleza também  gasta-se e chegará o dia que não entendamos como passo tudo, por que nem lembrarei, nem lembraras, nem lembraremos. A unica coisa que ficará sera o que pode ter sido.

Desgasto células nestas linhas e os dedos tremem em uma mistura, osso e carne, ódio, ressentimento, amor, esperança. tudo junta-se por alguma força elemental. Impossível de perceber, sem ordem, sem compaixão, sem misericórdia. Estacas no peito são pregadas, morrem os vampiros com a luz do sol, morrem as galaxias que não conseguem deter a sua aceleração e se destroçam aos pedaços em milhares de elementos desconhecidos, neste mesmo instante diminuto de tempo.

Costurar as feridas, emendar-se, levantar-se e ver para o horizonte. Destino tem muito ainda, nesta vida ou na outra. impensáveis são as coisas que deveriam ter acontecido. As reflexões estão demais. Sonhos foram excluídos, deletados. vísceras espalhadas dentro do nosso ser aumentam o desespero de viver, dores aparecem, veias que explodem pelo pulso insanável do coração.

Animais cósmicos vem a mente e navegam entre mares negros, por que o vazio não tem cor, não tem nada e nada é uma coisa, uma palavra esquecida pelos profetas ciganos que tem sua historia falada. Eu não sou o mesmo, você não é a mesma, eles não são iguais a nós. Somos mutações de inconsciência embebida no mais longe poço do cérebro, um buraco preto dentro de nós consome nosso ser, arde como a Roma.

Raiva nas palavras, desejo de morte, nada faz sentido, O vazio absoluto cresce com os anos, ficamos mais longe os uns dos outros,  aquela força repulsiva nos afasta, desgasta-nos, apodrece o melhor de nós.

Assassina-me!, atira bem no meio do meu peito, não me deixe moribundo,  desvalido. Me da uma morte digna, eu mereço isso.
zumbidos de musicas estremecem as fibras e os tecidos, as agulhas já não doem, o impacto é iminente, bato de novo no pé. Os corvos estão maiores, cresceram dentro de mim. A guerra acabou, os soldados voltam mutilados, assim vai ser até o fim dos nossos dias. A carne vai ser consumida, engolida por seres microscópicos, interestelares. Alimentados com nossas dores, com todo o sofrimento deste mundo insano.

Ainda chove aqui fora, e não termino de escrever. Tenho muito a dizer e não vou conseguir neste poema sem sentido próprio, iluminado só pelas minhas vivencias de ontem, do mês passado, de um ano atras, dez anos no tempo. Para o universo nada, para mim o absurdo toma conta desde que nascemos, desde que aquele espermatozoide encontra o ovulo começa o carma. Qual é essa divida que tenho?, que temos? por que não consigo pagar, querem meu sangue? que posso te oferecer neste inferno, como posso te pagar pela injustiça, pelo que tenho culpa, pelo que eu sou, pelo que eu serei.

Estamos lidando, porem alguns de nós vão parar. e dessa vez será para sempre. Asilados, aislados, marcados, abusados, perdidos, sufocados. A maquina não vai parar. As engrenagens estão lubrificadas até o infinito, estou de passo, estamos de passo e pronto veremos a posição das coisas, das palavras que não serão ditas, do nome que não dei. Do que saiu e do que entro pela porta e ficou tatuado na pele e escurecido com os anos.

Ontem morri, hoje morri de novo, amanha também e assim até que o hotel de Gilbert seja totalmente preenchido.

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