segunda-feira, 1 de junho de 2020

Causalidade

No aguardo do dia seguinte o dia anterior passa lento e o atual despercebido. Noites de solidão e frio do inverno batem na janela. Janela que se mexe como querendo me dizer uma palavra, tal vez um grito. Soprando, o vento entra no meu cobertor e me faz companhia, gelada companhia. Melhor que nada né, não posso reclamar. Assim me ensinaram, tem coisas piores e pelo menos estamos vivos e com saúde.

Agora faz sentido ou não aquela frase do verso anterior, fomos criados com a resignação de nosso nível social, com uma ideia de falsa liberdade que nunca esteve, que nunca está. Foi embora no momento que fomos jogados da matriz materna, aquele lugar quente e coberto, onde éramos os donos absolutos do meio do nada, sempre isolados desde que fomos criados.

Aquele velhinho que morava do lado do me quarto, o conheci hoje. Veio com sua companheira para pegar umas plantas e uma terra que tinha deixado no jardim. Obviamente eu nem tinha percebido, eu já nem olho detalhadamente nas coisas, estou perdendo meu toque. O casal de velhinhos fofos gritaram na porta o nome de A. meu outro vizinho que dividiu áreas comuns com eles. Sem resposta eu assomei meu nariz, como sempre onde não fui chamado. Más foi legal, o velhinho pediu para mim que pega-se um maracujá do chão. No outro dia eu tinha visto um outro maracujá no chão, porém foi quando o velhinho pediu para mim que descobri que tem um pé de maracujá no meu quintal.

Diz pra eles que o A. tinha ido caminhar, nesse horário do por do sol ele faz isso, é a sua rotina que segue fielmente para não sentir o tédio do vazio. Logo depois pediram para eu abrir a porta pra eles pegar as plantinhas. Na verdade as plantinhas estavam secas nem o A. nem eu temos essa costume linda de cuidar das plantas. Eu fiz um gesto e eles continuaram seu pedido me contando que já tinham morado aqui, eu abri e ajudei a senhora pegando um saco de terra e colocando dentro do carro (sim a gente envelhece e começa gostar de terra). Foi um momento especial onde teve a oportunidade de mostrar quanto eu sou gentil.

A mulher C. inquieta quis dar uma olhada no outro lado do quintal e foi, eu nem diz nada. Foi a casa dela, o seu N ficava olhando o pé de maracujá, despindo a arvore de suas folhas com seu olhar, procurando só a figura de esfera da fruta aceda. Parafraseou entre dentes que não tinha como sem sua barra de abaixar maracujás, especialmente desenhada por ele para esse propósito. 

ajudei a dona C. levar os vasos ao carro e me contaram que moravam perto dai, que eles eram do sul, a dona C pergunto de donde eu era e respondi do norte. Ela agradeceu a ajuda e me deu um presente que agora não sei como cuidar, ela diz: tem uns pé de batata doce que eu cultivei naquele outro quintal pegue elas quando crescer.

Antes de entrar em casa olhei para meus pés de batata doce e pensei e agora como cuido de vocês?. Depois pensei de novo: eles já estavam ai quando eu cheguei e nunca precisaram de mim, por que irão precisar agora?. Esse pensamento não tirou a necessidade de toda vez que vou sair de casa olhe pra os pés de batata doce e verifique se estão bem.

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